
Pedro de Almeida, conhecido como Pedro de Alexina, vive no Quartel do Indaiá, antigo quilombo na região de Diamantina, Minas Gerais. Descendente de escravos, cabelos brancos, 81 anos, garimpeiro, ele é apresentado ao espectador na primeira cena de “Terra Deu, Terra Come”, encomendando o corpo de João Batista, morto aos 120 anos.
A partir daí, e ao longo de 88 minutos, vamos acompanhar o velório, o cortejo fúnebre e o enterro do velho homem. Perto da cova, Alexina vai borrifar cachaça no corpo e explicar ao morto: “O que você queria taí. Nós não bebeu ela não, a sua taí. Vai e não volta pra me atentar por causa disso não. Faz sua viagem em paz”.

Desde o início, fica claro para o espectador que todos ali, naquele vilarejo pobre e muito simples, sabem que estão sendo filmados. Diante da câmera do diretor Rodrigo Siqueira, Pedro de Alexina conta histórias, lendas e evoca fantasmas. Parece um personagem saído da obra de Guimarães Rosa, atormentado pela lembrança de um tio, com quem trabalhou, que enterrou um diamante antes de morrer. “A terra deu, a terra come”, diz, resignado com a impossibilidade de encontrar o tesouro.
Objetivamente, o documentário tem o propósito de registrar os vissungos – cantigas fúnebres, em dialeto banguela, cantadas nos séculos 23 e 19, que Pedro de Alexina parece ser um dos últimos a ainda conhecer.
Mas “Terra Deu, Terra Come” vai muito além, ao deixar fluir a cumplicidade existente entre Rodrigo Siqueira e o velho garimpeiro. Estamos diante de um documentário ou de uma ficção? O filme supera esta barreira e oferece a possibilidade de compartilharmos do pacto entre o diretor e o personagem. Sem saber o que é real e o que é ficção na representação daquele velório, o espectador embarca numa viagem fascinante.
“Terra Deu, Terra Come” integra a mostra competitiva do festival É Tudo Verdade. O filme tem sessões nesta sexta-feira, às 21h, no Espaço Unibanco, e no sábado, às 15h, no mesmo cinema.
fonte:http://vimeo.com/10589786
É um filme que eu gostaria de ver, vou torcer para que haja novas exibições.
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