Seja bem-vindo a esse espaço no qual se pretende multiplicar conhecimentos pertinentes ao continente africano e de sua diáspora no Novo Mundo. É reconhecida a necessidade das trocas de saberes e a socialização do conhecimento na área da História, com vistas ao desenvolvimento das atividades de ensino e pesquisa na busca da inclusão de temas que contribuam para a compreensão da multiplicidade das experiências humanas e a criticar estereótipos organicamente naturalizados.



domingo, 18 de abril de 2010

No rastro de africanidades: Pedra do Sal



A Saúde foi o local do Rio de Janeiro onde existiam os mercados de escravos, as "casas de engorda" e toda a infra-estrutura do comércio escravagista nos séculos XVIII e XIX. A Pedra do Sal, que fica no pé do Morro da Conceição, no mesmo bairro, nas cercanias da Praça Mauá, era o local conhecido como “Pequena África” onde os negros eram negociados como escravos logo que desembarcavam no Porto do Rio de Janeiro, vindos da África e da Bahia. Mais tarde, livres, fizeram ali seu ponto para rituais, cultos religiosos, pastoris, batuques e rodas de capoeira. Sambistas e chorões, como João da Baiana, Donga e Pixinguinha também se reuniam na Pedra do Sal.
A Pedra do Sal, assim chamada devido ao sal que ali era desembarcado e comercializado, foi o berço do Samba e do Chorinho carioca no final do século XIX. O ponto de encontro do ritmo carioca era um ambiente recheado de inspirações vivas de grupos de samba, ranchos e grupos carnavalescos.

O Samba nasceu efetivamente dos terreiros da região portuária sob contribuições decisivas das músicas que eram cantadas e, sobretudo, das reuniões ali promovidas. Tendo a cidade sido durante muito tempo o foco das migrações internas do Brasil, o samba beneficiou-se dessa fusão que absorveu durante anos características importantes das manifestações culturais trazidas pelos negros e daqueles nascidos em terras brasileiras como resultado das contribuições africanas, indígenas e portuguesas. Por isso a Saúde é reconhecida como berço da cultura popular carioca.
Dos moradores do lugar destacam-se Machado de Assis, um dos maiores escritores brasileiros, nascido no morro do Livramento e João da Baiana, compositor e percussionista carioca, introdutor do pandeiro no samba.
Nas décadas de 20 e 30, os ranchos de carnaval atingiram o auge. Deixaram de ser a manifestação popular da Pedra do Sal e passaram a fazer sucesso nas camadas mais altas da sociedade.
Foram em bairros como Saúde, Gamboa, Providência e Santo Cristo, que também se originou e se definiu o botequim. O gênero surgiu a partir das antigas "botecas"- pequenos armazéns de secos e molhados em que se encontrava de tudo. Os cariocas costumavam passar pelas "botequinhas" para completar as compras que faziam nas feiras, e aproveitavam para degustar alguns tira-gostos, acompanhados de um vinho. Sem ser restaurantes, essas casas, uma mistura de armazém e bar, criaram um estilo que sobrevive em todo o país, com alguns exemplares autênticos remanescentes dos velhos tempos.
Embora situados a muito poucos minutos do burburinho da Praça Mauá, da Central do Brasil e da Avenida Rio Branco, um dos maiores eixos de circulação do centro da cidade do Rio de Janeiro, os bairros da Saúde, Gamboa, Providência e Santo Cristo refletem, pela vida de sua população, uma significativa distância comportamental do restante da cidade, revelada em hábitos, padrões de comportamento e formas de uso do espaço público não mais encontrados no restante da cidade. A imagem cultural do local é preservada e transmitida pela permanência das festas coletivas, das cadeiras nas calçadas e das conversas nos fins de tarde.
O reconhecimento da Pedra do Sal como patrimônio cultural do Estado do Rio de Janeiro e o seu conseqüente tombamento permite que se compreenda que este local tem herança cultural ancestral de grande importância para a cultura negra carioca que lá, hoje, fez despontar todo encanto e magia da Cidade do Samba e do carnaval do Rio de Janeiro.


Texto que deu origem ao processo de tombamento da Pedra do Sal, ocorrido em 20/11/1984 - (E-18/300048/84-SEC)

Pedra do Sal é um monumento histórico da cidade do Rio de Janeiro.
Dali, os moradores da Saúde saudavam os navios que chegavam da Bahia com familiares e amigos. A Pedra do Sal era, para migrantes, o que é hoje o Cristo Redentor para os recém-chegados ao Rio: O primeiro abraço e o primeiro sentimento da cidade.

Ocorre que os moradores da Saúde, e seus migrantes, eram predominante negros baianos – retornados da Guerra do Paraguai (1865/70), uns; em busca de melhores condições de vida, outros. A Saúde, debruçada sobre o Porto, era uma pequena Bahia (como a Bahia, por sua vez, era uma pequena África).

Lá se encontraram as celebres tias, cabeças de famílias extensas – Bibiana, Marcelina, Ciata, Bahiana... Pretas forras. Foi nas suas “pensões” que o batuque e o jongo se transformaram em partido alto e, logo, no amplo espaço da Praça Onze, no samba que conhecemos.

Os pretos da Saúde, e suas tias, participaram dos principais eventos da cidade: Abolição (1888), Revolta da Armada (1891/ 93), as greves de 1903/ 05, a Revolta Contra a Chibata (1910), e outros. Participação amplamente documentada, embora subestimada pela historiografia conservadora.

Já não existe a Praça Onze. Nada sobrou das “pensões” onde nasceu o samba. Boa parte da Saúde (e da Gamboa, da Conceição, Providência e do Estácio, que a prolongavam) se descaracterizou. Ficou como raro testemunho da cidade negra, a Pedra do Sal.

A Pedra do Sal é um monumento religioso do povo carioca.
Na virada do século, a Saúde, como o velho centro do Rio, enxameava de templos afro-brasileiros; iyalorixás, cambonos e alufás em cada quarteirão. Os templos católicos foram tombados e preservados. Nenhum afro-brasileiro o foi.

Na Pedra do Sal se faziam despachos e oferendas (a Obaluaiyê, Xangô, Ogum, Exu, Iansã e outros Orixás), se despejavam trabalhos. Era e é, local consagrado. À sua volta, convergindo nela, ficavam diversas roças, hoje desaparecidas, reduzidas ou transferidas para o subúrbio e Grande Rio.

Remanescendo como espaço ritual, a Pedra do Sal é um dos poucos testemunhos físicos daquele passado de densa religiosidade carioca.

A Pedra do Sal é, em suma, mais que um bem cultural negro-brasileiro. É um monumento histórico e religioso da cidade do Rio de Janeiro, 1 de abril de 1984, Joel Rufino dos Santos, Historiador.



fonte:http://pt.wikipedia.org/wiki/Pedra_do_Sal

Um comentário:

  1. Parabéns!
    Muito clara a história da Pedra do Sal, foi o lugar mais esclarecedor que encontrei no google.
    Um abraço.
    Suely Costa Melo

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