Seja bem-vindo a esse espaço no qual se pretende multiplicar conhecimentos pertinentes ao continente africano e de sua diáspora no Novo Mundo. É reconhecida a necessidade das trocas de saberes e a socialização do conhecimento na área da História, com vistas ao desenvolvimento das atividades de ensino e pesquisa na busca da inclusão de temas que contribuam para a compreensão da multiplicidade das experiências humanas e a criticar estereótipos organicamente naturalizados.



terça-feira, 13 de abril de 2010

A Graça do Mundo por Luiz Carlos da Vila




Luiz Carlos Baptista, negro, compositor e cantor , nasceu em 21 de julho de 1949, no Rio de Janeiro, em Ramos, subúrbio carioca . Filho de Esmerilda Ventura e Francisco Baptista. Ao completar 1 ano de idade sua família, mudou-se para um local que estava surgindo : Vila da Penha.
Desde pequenino mostrava-se ser um “menino prodígio”, possuía habilidades com desenho e a escrita , não é para menos pois ingressou no catecismo aos 5 anos de idade. Com 8 , aprendeu um instrumento musical que não faria parte de seu repertório musical, o acordeon. Sr.Francisco (PAI) gostava de batucar um pandeiro e sua tia Nelly como tocava acordeon , acabou despertando-o e ensinando-o .
Os anos se passaram e trabalhando no meio contábil, ingressou no Ministério da Fazenda – Serpro e vivendo paralelamente para o samba. Mas como o sangue que corria em suas veias falou mais alto , definitivamente resolveu deixar o status de ser um funcionário público que na época existia (década de 70).
Frequentador assíduo das rodas de samba, uma das mais tradicionais ao qual participava era o Cacique de Ramos, onde foi apresentado a sambista Beth Carvalho.
Da Vila, venceu 2 festivais de samba de quadra e foi vencedor do samba enredo que levou a Vila Isabel, ao título de campeã do grupo 1B em 1980 e no centenário da Abolição da Escravatura em 1988, foi um dos compositores que levou a sua Escola de coração a conquistar o título de campeã do grupo especial,com o samba: Kizomba ,A festa da raça e enredo do Martinho da Vila
Suas músicas foram interpretadas por Beth Carvalho, Simone, Fátima Guedes, Martinho da Vila, o conjunto Nosso Samba, o Grupo Fundo de Quintal, entre outros e claro por ele também. Suas letras são belíssimas , algumas são puras poesias. Era possuidor de um dom, o dom da escrita.
A seguir, algumas de sua composições em parceria com seus amigos :

O SHOW TEM QUE CONTINUAR (Arlindo Cruz / Luiz Carlos da Vila / Sombrinha)
KIZOMBA , A festa da raça (Jonas / Luiz Carlos da Vila / Rodolpho)
ALÉM DA RAZÃO ( Sombra / Sombrinha / Luiz Carlos da Vila)
O SONHO NÃO ACABOU (Luiz Carlos da Vila)
A LUZ DO VENCEDOR (Candeia / Luiz Carlos da Vila)
SEM ENDEREÇO (Arlindo Cruz / Luiz Carlos da Vila)
AMOR, AGORA NÃO (Luiz Carlos da Vila / Sombrinha)
FOGUEIRA DE UMA PAIXÃO ( Acir Marques / Luiz Carlos da Vila / Arlindo Cruz)


Importante contribuidor para a valorização da cultura afro-brasileira na música , o SAMBA.
Abro os trabalhos com uma letra de música de Luiz Carlos da Vila, do Compact Disc Horizonte Melhor, lançado em 1981:

A Graça do Mundo

Eu não pretendo pra mim
Toda graça do mundo
Minha primeira instrução foi saber dividir
Dividir o meu pão com um amigo um irmão
Dividir um sorriso e a minha canção
E assim dividindo eu somo alegrias ao meu coração
Eu respeitei cada homem a sua verdade
Mas hão de convir que a felicidade
Não tem nada haver com o fechar das mãos
Esta aí a natureza
Dividir conosco
A gente usufrui e nem paga imposto
Pena que muitos não querem saber
Por isso eu chamo atenção
Ao bom senso comum
Vamos um por todos
E todos por um
Chegar a um acordo por um bom viver

A letra explicita a questão da divisão, da coletividade, da agregação de que o mundo necessita. Sozinhos não chegaremos a lugar algum, em todos os sentidos:no âmbito social, intelectual, político, no cotidiano. Se tratando de um samba, torna-se evidente que para que o mesmo permaneça é necessário a união em prol de sua manutenção, não permitindo que esse gênero musical, oriundo do povo e mais precisamente dos negros africanos e afro-brasileiros morra.
Símbolo da identidade nacional, criada pela população mais sofrida da pirâmide,porém com influências múltiplas, o samba nunca poderá deixar de existir, pois é a herança da nossa contribuição na formação cultural da sociedade brasileira.
Em 28.10.2008, aos 59 anos , Luiz Carlos partiu para um outro plano espiritual.
Como “ O show tem que continuar”, até hoje são feitas várias homenagens a este mestre e poeta. Em fevereiro de 2009, foi inaugurada o Colégio Estadual Compositor Luiz Carlos da Vila em Manguinhos no Rio de Janeiro, pelo governo do Estado do Rio de Janeiro e sugestão do então governador Sérgio Cabral.
É extremamente gratificante saber que uma pessoa, oriunda do povo , lutou e cantou em prol da manutenção da História e da Cultura afro-brasileira e permanecerá através da nossa memória.

Maria Angélica Ventura

Um comentário:

  1. Êta criaturinha que faz falta!!

    "Voa meu sabiá, canta meu sabiá,
    Adeus meu sabiá, até um dia..."

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